terça-feira, 1 de setembro de 2009

Pré-sal - Uma dádiva de Deus?

Em cerimônia oficial ontem, o presidente Lula apresentou projeto que será levado a plenário no Congresso quanto à regulação de extração de petróleo na camada pré-sal. Alguns pontos acerca do assunto ficam no ar e alguns outros devem ser considerados.

A própria posição do presidente Lula em relação à camada pré-sal é muito clara (a um ano das eleições onde ele pretende fazer de Dilma Rousseff sua sucessora). Em matéria do Jornal O Globo, falando a respeito do projeto, ele diz: "Quanto mais tempo demorar, mais vai demorar para a gente tirar proveito dessa riqueza". RIQUEZA. Aqui mora o primeiro problema.

O petróleo é uma commodity relevante na balança comercial mundial e muitos países têm cadeias produtivas baseadas nela (como Brasil e EUA, onde o transporte rodoviário é o mais usado pela população e indústria). No entanto o petróleo pode ser uma verdadeira maldição - e o próprio Lula admite. Matéria da SUPER essa semana faz um panorama interessante quanto aos problemas que grandes produtores de petróleo enfrentam, a tendêcia ao enfraquecimento democrático, aumento de desigualdades sociais e conturbações políticas (confiram na integra aqui).

O segundo problema é o aquecimento global. Nunca na história desse planeta (parafraseado nosso presidente), a questão ambiental esteve tão em voga e nunca o debate foi tão necessário. E uma vez que a queima do petróleo e seus derivados vem sendo a principal fonte de liberação de monóxido e dióxido de carbono na atmosfera fica a pergunta: porque 30 anos depois do pró-alcool, e da saída na frente quanto a outros biocombustíveis, o Brasil dá um passo atrás e volta a investir tão pesado em petróleo? Uma fonte de energia suja e fadada à extinção?

De fato, segundo cálculo do Greenpeace, caso o Brasil utilize toda a reserva estimada para o pré-sal, produzirá nos próximos 40 anos, 1,3 bilhão de toneladas de CO2 em extração, refino e queima de petróleo. De modo que ainda que o desmatamento da amazônia (causa principal da posição do país como um dos maiores poluídores do mundo) fosse zerado, ainda estariamos em posição de destaque no ranking de maiores produtores de CO2 (leia mais aqui).

O pré-sal e, seus bilhões de galões de petróleo, devem ser encarados como assunto de alta importância pela sociedade brasileira para que possamos tirar o maior proveito possível desta, nas palavras do presidente, "dádiva de Deus". E não há forma mais inteligente de fazer uso da oportunidade do que investir concomitantemente, e ainda mais pesado, na substituição do petróleo por combustíveis renováveis. Isso porque o ciclo do petróleo está fadado a se extinguir (prospecções otimistas dão no máximo um século para que o combustível acabe) e uma vez extinto será tarde para nos adaptarmos.

É hora de sermos inteligentes e virarmos o jogo para o nosso lado, de forma que em 25 ou 30 anos o Brasil seja um grande produtor de petróleo E biodiesel (por exemplo). Como citado na matéria da SUPER, dos 20 maiores exportadores de petróleo do mundo, 16 são ditaduras (e na maioria com baixos índices sociais e de igualdade de renda). No entanto devemos nos espelhar no exemplo da Noruega, 3ª exportadora de petróleo e 2º maior índice de desenvolvimento humano do mundo.

Aí sim poderemos dizer que esse é "um novo Dia da Independência para o Brasil".

3 comentários:

Unknown disse...

Régis,

Não posso usar outra palavra além de impressionada para qualificar como me senti depois de terminar de ler esse texto.
Muito bem escrito, argumentos plausíveis e fontes extras de informação.
Um texto opinativo consistente e que faz o leitor refletir.

Parabéns.
=)

Unknown disse...

ps: posso dar uma sugestão de pauta para possíveis textos no futuro?
Que tal desmistificar alguns termos do "economiquês" pra galera em geral?

Acho que você faria uma ótima ponte entre o estranhamento das palavras ininteligíveis que aparecem nos jornais todos os dias e o entendimento real de como as mesmas funcionam e afetam a vida da população.

ficadica.
;-)

parabéns de novo.

Ulisses Vasconcellos disse...

Genial como sempre. Mas uma vez destaco sua didática, excelente!

O Brasil é e sempre foi o país do imediatismo. Logo, daqui a um século alguem vai e dizer que a estratégia de exploração de recursos energéticos sempre foi errada.

E aí recomeça... com o que os outros países já estiverem abandonando.