sábado, 27 de março de 2010

Nardonis, Luzes e Copa do Mundo

Quando eu acabar de escrever este post a Hora do Planeta terá acabado (aqui no Brasil). A Hora do Planeta é um evento mundial ligado à WWF que convida as pessoas a apagarem suas luzes durante uma hora em prol Meio Ambiente e em combate ao aquecimento global. A meta é que 1 bilhão de pessoas em todo planeta se mobilizem.

Há menos de 24 horas atrás, Alexandre Nardoni e Ana Carolina Jatobá, foram declarados culpados pelo homicídio da filha de Nardoni em março de 2008. Durante os cinco dias de julgamento, populares se aglomeraram em frente ao Fórum onde o caso corria. Pessoas que saíram de suas casas, muitas vezes em outros estados, para " ver a cara deles depois da monstruosidade que fizeram” - nas palavras de uma manicure de 60 anos presente no local durante toda a noite do último dia.


Enquanto do lado de dentro testemunhas, réus e peritos eram ouvidos, do lado de fora houve cenas de violência contra o advogado de defesa, um pastor, um homem que "brincava" atrás do link da Globo e várias outras pessoas. Após o anúncio da sentença, segundo dados da Polícia Militar, 200 pessoas comemoraram a decisão do júri em frente ao Fórum. Houve queima de fogos e gritos de vitória no que mais parecia uma final de campeonato.


Cafu levanta a Copa
Daqui a 76 dias terá início a Copa do Mundo 2010, a décima-nona edição do mundial de futebol promovido pela FIFA, na África do Sul. O evento contará com a participação de 32 seleções, entre elas o Brasil, presente em todas as edições e campeão 5 vezes. O espetáculo midiático em torno da Copa do Mundo é único no Brasil. Segundo Waldenyr Caldas, professor da Escola de Comunicações e Artes (ECA-USP), o engajamento brasileiro é único no mundo e motivo de chacota para jornalistas de outros países, impressionados com o número de profissionais brasileiros presentes na cobertura dos mundiais. Na Copa de 2002, a TV Globo atingiu um recorde mundial, com 94,2% da audiência nacional durante a partida entre Brasil e Inglaterra, nas quartas-de-finais: 46 milhões de telespectadores.

O que Hoje, Ontem e "Amanhã" têm em comum? O que se chama "patriotismo de oportunidade". Claro que a Hora do Planeta não é um evento nacional, mas se adequa perfeitamente ao sentimento envolvido nos outros dois eventos: união. 

Não há problema algum em pessoas se unirem por uma causa, muito pelo contrário, é maravilhoso ver pessoas abraçadas a suas bandeiras - metafórica e literalmente. O que incomoda é o oportunismo destas "uniões". O brasileiro não é, infelizmente, um povo engajado por natureza. Não se vê por aqui, como em outros lugares do mundo, pessoas nas ruas pressionando seus governos por mudanças, questionando atos desonestos e corruptos ou se mobilizando por causas sociais que queiram ver melhor assistidas. Exceto aquelas onde a mídia põe os holofotes sobre.

Longe de mim crucificar a mídia. Como qualquer outro agente da sociedade, a mídia age em favor de seus interesses- sejam eles financeiros ou pela audiência que se pode atrair (o que também lhes rende ganhos em patrocínio). O problema está no brasileiro, que em grande maioria não tem instrução formal e, muito menos, política. Perdido no jogo político, onde quem tem rabo preso aponta pro do outro, onde a maioria tem teto de vidro e por isso não lança pedras nos dos demais, o povo brasileiro não sabe onde se encaixa. Não sabe que papel cabe à ele na vida do país e, mais tristemente, não conhece o poder que tem numa nação democrática.

Obviamente, num país onde exista eqüidade de renda, educação de qualidade e engajamento político, existirão eventos esporádicos que atrairão multidões. Crimes hediondos, manifestações sociais e eventos esportivos não mobilizam pessoas APENAS no Brasil. A tragédia é que por aqui, APENAS estes eventos o fazem.

9 comentários:

@microcontoscos disse...

É isso aí Regis. Foi como eu disse hoje: A hora do planeta está para a consciência ecológica assim como a Copa do Mundo está para o patriotismo.

Parabéns pelo post! Abraço.

Netinho Eneias Negralha disse...

Gostei muito.. parabéns.

Anônimo disse...

muito interessante seu artigo. parabéns... lúcido, equilibrado e com argumento... gostei muito.

Unknown disse...

Bom...primeiro que eu sou totalmente contra essa sua critica insisteeeente à copa do mundo!
Até pq eu sou uma dessas que passa os dias na frente da tv pra assistir aos jogos e sou até capaz de chorar no caso de uma derrota (admito).

Segundo que o Brasil é o país do futebol...toda essa atenção não é dada somente à copa...os campeonatos estaduais e brasileiro tbm têm grande repersucssão na mídia, e tbm mobilizam grande parte da população.

Sobre a hora do planeta...infelizmente ainda n há uma mobilização tão grande assim (eu assumo que não apaguei as luzes da minha casa) mas acho (e espero) que tende a crescer.

A respeito dos Nardoni, eu até acho que há um exagero com relação às comemorações e agressões que aconteceram depois do julgamento mas acho que indica que o povo brasileiro busca por justiça...e isso é otimo! Fora que acaba sendo uma fonte de conhecimento (nos falamos sobre isso)!

E por íltimo, eu acho que vc ta sendo muuuuito injusto c os brasileiros. Um exemplo de que as manifestações contra a desonestidade dos politicos está crescendo é já houve mais de um movimento contra o arruda em brasília.

Talvez o que ainda falta é que essas irregularidades cheguem aos ouvidos do povo...

Renato Alt disse...

Verdade, Regis.
Tenho tentado, de uns tempos pra cá, entender qual o real mecanismo que leva as pessoas à mobilização. É fato que muitas querem apenas tentar aparecer na TV, como aquelas que ficam fazendo careta atrás dos repórteres de rua, ou apenas sentir que fazem parte de alguma coisa maior do que a mediocridade das próprias vidas. O caso Nardoni me parece, em larga escala, o amontoado de pessoas que páram na estrada pra observar um acidente...
A Hora do Planeta é, na minha opinião, quase risível, não pelo que prega, mas pelo que alcança efetivamente, que é pouco ou nada...
Copa do Mundo, bem... sim, de fato é usada para encobrir questões maiores, mas aqui o ponto é paixão: e quem nunca se entregou à uma? ;-)
Parabéns pelo post.

MOMENTOS disse...

A grande diferença do "Zé" para o "Mané" é que o Zé acredita e participa mas não compreede, já o Mané deturpa a compreensão e tem opinião formada sobre tudo paraticipa pela exposição.

Somos a população dos "Zé&Mané", acredite se quiser.

Administrador disse...

Encontrar relação entre esses fatos me impressiona, positivamente. A construção e o desenvolvendo do texto, soa profissional. Mas me incomoda trechos como: "o engajamento brasileiro é único no mundo e motivo de chacota para jornalistas de outros países..." [ certamente seria motivo de chacota para muitos de nós brasileiros saber que 114,9 milhões de americanos ficaram durante quatro horas assistindo homens se socando por uma bola oval na final do "Super Bowl" do ultimo ano. Sendo assim, não vejo nenhum sentido tal informação dentro da construção do texto uma vez que o futebol é algo cultural, e que move a população por sua essência, independente da grandiosidade do evento esportivo, logo, na minha visão, a Copa não pode ser vista como um momento de " patriotismo de oportunidade", mas como SIMPLESMENTE uma extensão da paixão do brasileiro pelo futebol ] ; " ... Houve queima de fogos e gritos de vitória no que mais parecia uma final de campeonato" [ o caso da menina inglesa Madeleine McCann, teve mobilizações ainda maiores que as do “caso Isabela” pelo mundo a fora,envolvendo artistas de diversas nacionalidades, lideres religiosos e milhares de populares. Será isso também uma demonstração de patriotismo de oportunidades? Aos meus olhos isso é uma comoção comum a todos os seres humanos, de todas as nacionalidades, independente do seu poder de instrução política ou social. ] ; " Não se vê por aqui, como em outros lugares do mundo, pessoas nas ruas pressionando seus governos por mudanças..." [ realmente não. Não é mesmo "Senhor povo brasileiro"? ] ; "se mobilizando por causas sociais que queiram ver melhor assistidas. Exceto aquelas onde a mídia põe os holofotes sobre" [mídia está capaz de te fazer afirmar lá na sua conclusão: "APENAS estes eventos o fazem.", uma vez que seus conhecimentos não são frutos de vivencia, mas sim de casos onde os holofotes comunicativos estão apontados, ou vai me dizer que estava sabendo da manifestação ocorrida dia 7 de março na Praça Plácido de Castro, em frente a prefeitura Municipal de Rio Branco, sobre a corrupção do governo local? ] Parabéns pelo texto! ;D

Régis André disse...

Não há problema em ser apaixonado por um esporte, não há problema em se emocionar com um crime hediondo, muito menos ser tocado apenas pelo que a mídia mostra. O problema é ver apenas isso, ser patriota apenas pela seleção, se mobilizar apenas contra um criminoso (penal) e ter apenas uma fonte de informação. A busca no google por uma movimentação no Acre já um começo pra sair da influência APENAS dos principais meios de comunicação.

A mídia é uma ótima agente social, que assim como as outras deve ser vista com reservas já que, como as outras, tem seus interesses.

O "Senhor Povo Brasileiro" expôs suas idéias e mexeu com as de, no mínimo, 200 pessoas. E você, o que fez por um país melhor hoje?

P.S.: Quem diz que há motivo de chachota por parte de jornalista internacionais é o professor citado, considere uma releitura.

Ulisses Vasconcellos disse...

Disso tudo, me impressionou de verdade a aglomeração humana frente ao fórum dos Nardoni.

Lembro de uma reportagem que mostrou uma mulher revoltada porque não deixaram ela entrar para assistir o julgamento. Ela alegava estar lá desde a madrugada...

O brasileiro adora meter o nariz onde não foi chamado. Ficar revoltado com o crime é excelente, mas sair de casa e querer 'participar' do espetáculo é ridículo! Vá cuidar da sua vida, senhora.

Quanto à Copa, é o maior evento esportivo (me desculpe Olimpíadas, mas é sim), além de político e social. É a chance de um país sobrepor-se a outro, meio que uma guerra moderna entre povos. Acho válida a repercussão.

E a hora do planeta também acho legal pela reflexão, mesmo que mínima que pode levar.

Isso que eu falei.